Se eu não me conhecesse,
talvez eu agora me definisse
como um naco de pó
que se fez pós e após
à passagem da tempestade ligeira,
que mais resseca, do que molha...
Que mais o solo disseca,
do que o alimenta ou o sustenta,
em sua necessidade de semeio...

Se eu,
- teimoso que sou-
partisse meu coração aos pedaços
e gesto futuro,
tentasse recompor suas partes,
com certeza perder-me-ia entre os laços,
cujos nós, feitos no escuro,
assimilaram-se, encorporaram-se, feito encartes...

No mais
- como sempre me defino -
arremedo de poeta,
talvez mantenha na porta entreaberta,
o desejo de partir ou ficar...
Buscar a paz.
Objetivo para o qual me atino,
e ainda se faz minha meta.
Minha vontade dileta,
quando discuto com o nexo,
e me coloco a pensar...

Quem me despertará,
-tenho certeza -
será a singeleza da fé
que se faz em mim habitar.
Suavidade sutil que com destreza
coloca-se de forma discreta,
sempre a frente
de minha parte que conversa com a alma...
Aquela mais consciente
que indaga, questiona, faz ressalvas,
fazendo-se exposta.

Não se eximindo de colocar-se à mostra.
Sempre procurando respostas.

Caminhos secos, por vezes....
Áridos, por serem em demasia claros
e vestidos com a verdade, que fato raro
hoje se faz ausente das mesas,
dos quartos, das salas,
e não mais se redimensiona nas falas,
sendo abortada
por absoluta e impoluta
validação do nada,
que cresce e se acresce
à nossa personalidade,
num querer que gradualmente fenece,
espargindo, modo vil, a necessidade,
de não precisar Ser.
Ou existir.

Ou mesmo indagar pra onde ir...

Sou mesmo assim.
Paro nas esquinas
do lugar onde moro,
num percurso mil vezes percorrido,
mas que ainda faz-se estranho pra mim...
É que nós,
vestimo-nos a cada dia
com vestes e performances diferentes.
Coisas do nosso inconsciente...

Por vezes as mesmas faces
perdem o realce,
mesmo que saibamos,
que elas estão conosco no agora
e em essência,
já dividimos esse mesmo espaço,
em outras existências...


josemir (ao longo...)